09 janeiro, 2010

Entre-vista, Entre-linhas I

-A verdade ?
-Tudo bem, já que insiste em me torturar
-Não, eu nunca finjo, é que moram muitos nesta minha casa
-Sim, eu disse que era um santuário, mas pense bem, santuários abrigam também demônios.
demônios !
-Pois lá as pessoas vão para receber bênçãos. Portanto, libertam-se das feras e elas continuam lá, aqui, digo.
-Existe um Deus, mas como em todo templo, Ele é silencioso, quase imperceptível, sabe?
-Sim, voltemos.
-Definir-me ? Seria mais fácil encontrar o silêncio na explosão de nossa Mãe Traidora
-Conter definições ? Ah! Definições definem o fim, estipulam o fim. Pessoas são sempre começar e recomeçar.
-Eu vivo escondida.
-Como vivo ? Eu amarro minhas mulheres em troncos.
-Porque não posso ser eu... é muita ousadia, entende ?
-Ah! Eu vivo com o sangue que escorre delas... conforme as maltrato, o sangue escoa e eu desenho, traço, minha vida com esse vermelho, com esse ver.
-Acho que é vermelho porque é a cor do amor e a cor da vida. Mas se elas tomassem a frente, seria como estar em um lugar puro demais, entende ? Aqueles que quando respiramos os pulmões doem, por ser selvagem ? Então escrevo com a dor que elas permitem sangrar.
-Porque para que eu fosse os 'eus', teria de fazer uma escolha
-Sozinha eu já vivo. Teria eu de viver o contrário.
-Medo da solidão ? (risos) não mais, o que temo agora é viver com as pessoas.
-Me assumir ? Ah! Eu temo, nós tememos.
-Bem, eu me prendo aos preconceitos alheios para não me transportar à liberdade.
-Porque quando lá chegar... nada deterá o que as selvagens pedem.

Um comentário:

Felipe Gallesco disse...

Que todos os dias possamos morrer, nascer e nos encontrar. Na medida do que somos de encontro ao nosso interior.